Opinião

Uma luz em tempos sombrios

Por Gustavo Krause

Em tempos sombrios, a luz vem das favelas brasileiras

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A última semana de maio foi um teatro de horrores. Na Vila Cruzeiro, a desastrada e letal operação policial resultou em 25 mortes; a abordagem da Polícia Rodoviária martirizou e matou um cidadão cujo nome foi presságio: Genivaldo de Jesus Santos; do Texas nos chega a imagem chocante da patologia social americana: um atirador fuzila 19 crianças e dois adultos; em Pernambuco, mais de cem de pessoas foram vítimas fatais das enchentes.

Por sua vez, a guerra da Ucrânia não dá trégua: revive o que Hannah Arendt, definiu como “banalidade do mal”, o genocídio dos judeus, cometido pela monstruosidade nazista. O conflito atinge a economia, a política, a vida das pessoas, agrava riscos do conflito nuclear e coloca em xeque a atual ordem mundial.

Este quadro de violência domina o debate e amplia os problemas que colocam em risco o futuro da humanidade. A propósito, a agenda do recente Fórum Econômico de Davos foi ofuscada pela guerra. Constatou o aprofundamento de crises, a exemplo da segurança alimentar (oferta de grãos, fertilizantes, estrutura logística do comércio internacional), a questão energética, inflação crescente e provável recessão global, perdendo a oportunidade para discutir caminhos estratégicos e enfrentar os enormes desafios.

A referência à insegurança alimentar nos remete à situação do Brasil cuja taxa saltou de 17%, em 2014, para 36%, em 2021, atingindo, mais fortemente, pobres, mulheres e crianças, segundo pesquisa global do Gallup, realizada desde 2006 em 160 países.

Independente da diferença conceitual entre insegurança alimentar e fome (“Mapa da Fome” da ONU, em desuso), no Brasil, a fome é real, visível, desrespeita direito fundamental da pessoa humana. Trata-se de uma modalidade de violência social reiterada pela retórica autoritária do governo que insiste em não enxergar o outro e afrontar a democracia.

Em tempos sombrios, a luz vem das favelas brasileiras, “nação” de 17 milhões de pessoas, com a premiação de Celso Athayde, CEO da Favela Holding na categoria “15 líderes que estão mudando o mundo”, outorgado pela Fundação Schwab. O menino da Favela Sapo superou a tentação do crime e a condenação à miséria, empreendedor nato, venceu, apresentou ao mundo um paradigma novo do quarto setor diante dos plutocratas em Davos. Autodidata, é autor e coautor de cinco livros.

Em inglês impecável, temperado com “favelês”, o conglomerado de 24 empresas, revelou o CEO, movimenta R$ 63 bilhões/ano

Athayde comprovou seu lema: “Favela não é carência, favela é potência”. Basta o governo não atrapalhar.

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda

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