Opinião

Uma família de manés, a começar pelo pai

Com medo de atirar no próprio pé, ele agora só fala as coisas pela metade

Por Ricardo Noblat

 

Mané quer dizer indivíduo tolo, menos inteligente ou com pouca capacidade intelectual. Ou, se preferir, um bobo, palerma, inepto, paspalhão, indolente. Bolsonaro está “quase na situação de mané”.

Quem disse? Bolsonaro no lançamento do PL60+, movimento do seu partido, o PL, para atrair público com 60 ou mais anos de idade interessado em participar das eleições de 2024.

No seu discurso, Bolsonaro afirmou que os parlamentares presentes no evento eram “privilegiados” por poderem “discutir o futuro” do país, enquanto ele, coitadinho, não tem “nada”.

Bolsonaro foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral a 8 anos de inelegibilidade por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação quando ainda era presidente.

Mas não está impedido de “discutir o futuro” do país. Pode fazê-lo em qualquer lugar, até mesmo no Congresso se convidado. Não o faz porque lhe falta capacidade intelectual e é preguiçoso.

Ultimamente, Bolsonaro deu de falar as coisas pela metade ou por meio de enigmas. É medo de revelar o que quer ocultar, atirar no próprio pé como já atirou tantas vezes, e a justiça bater à sua porta.

“Na hora H, para fazer as coisas dentro das 4 linhas, ele vira a cara para você”, disse Bolsonaro sem explicar a quem se referia. “Quem tinha que fazer a coisa certa, não fez”.

E por fim:

“Depois do embate do Legislativo com o Judiciário, ninguém mais tem dúvida do que aconteceu em outubro do ano passado”.

Tal pai, tais filhos. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse na mesma ocasião que o ministro Flávio Dino ocupará uma vaga no Supremo Tribunal Federal para “se vingar da oposição”.

Vingar-se do quê? Não disse. Mas chamou Dino de ruim:

“O Lula extrapolou na sua ignorância e no seu desrespeito com o Brasil ao enviar o nome de uma pessoa que reúne tudo de ruim (e que não inspira) nenhuma confiança”.

Por sua vez, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) aproveitou a presença na Câmara da ministra da Saúde, Nísia Trindade, para mostrar o quanto entendia do assunto em discussão.

Depois de relacionar a vacinação contra a Covid-19 com morte súbita, perguntou a Nísia

“Será que não é muito extremo obrigar o filho do pobre a se vacinar?”

Primeiro, a ministra respondeu que a vacinação contra a Covid-19 nada tem a ver com morte súbita; em seguida, que apenas neste ano 110 crianças morreram em decorrência da doença.

Em 2023, o Brasil registrou 3.379 casos de síndrome respiratória aguda grave por Covid-19 em menores de 1 ano, e 1.707 casos na faixa de 1 a 4 anos. Nísia completou:

“A indicação é muito clara e está baseada em um dado muito simples: 110 mortes de crianças por Covid em 2023, é esse o dado que leva a essa determinação.”

E pensar que uma família de manés governou o Brasil durante quatro anos…

Ricardo Noblat é jornalista

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *