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RONDONÓPOLIS PERDE UMA DE SUAS MAIS NOTÁVEIS PIONEIRA.


Faleceu nesta manhã, Jupia de Oliveira Mestre, assim Rondonópolis perde mais um de seus pioneiros, dona Jupia como era conhecida, deixa uma história de pioneirismo e amor por essa terra. Ela nasceu na cidade de Itiquira em 1932 e faleceu na manhã de hoje (04/06), na cidade que escolheu para viver e trabalhar. Ela será velada na capela 02 do Cemitério da Vila Aurora

Foto; Roberto Barcelos

“Eu vim para cá em 1952. A Avenida Marechal era uma rodovia, que dava acesso à Poxoréo e Cuiabá. Era a principal rua da cidade. Todas as casas comerciais eram nessa rua. Tinha a Riachuelo, o Otacílio Fontoura e alguns outros bazares.
Na Rua Otávio Pitaluga, esquina com Avenida Marechal Rondon, tinha as mangueiras, onde era a feirinha.
A Praça Brasil onde hoje é o Banco do Brasil, era o lugar das mulheres lavarem roupas, pois ali tinha uma mina de água. Com a sobra dessa água, os homens fabricavam adobe para a construção de casas.
Eu recebia muita gente na minha casa, onde eu tinha salão de cabeleireira e salão de costura. O pessoal vinha de Cuiabá para passar o final de semana aqui, ficava na minha casa; as mulheres vinham para ganhar neném ficavam na minha casa. Na hora de ir embora, perguntavam: “quanto eu te devo?” e eu falava: “ah, deixa qualquer coisa aí na caixinha pra gente comprar mais coisas, aqui é dos amigos.” E minha casa ficou conhecida como “Pensão dos Amigos”, mas não tinha placa, não.
O Zé Turquinho também recebia, na minha casa, o pessoal que vinha de outros estados para comprar terras aqui. Era o ponto de encontro deles, mesmo antes de vivermos juntos. Ele morava lá na Cidade Salmen. Quando ele adoeceu, veio morar aqui em casa. Eu já tinha sido casada, tinha a minha filha ainda pequena. Mas nós éramos apenas bons amigos. Ele era muito amigo do meu pai mesmo antes de eu nascer. Quando meu pai morreu, eu tinha apenas dois anos e meu irmão, 01 ano e meio e o Zé Turquinho ajudou minha mãe a nos criar. Logo ele sarou e continuou morando aqui em casa, e nós começamos a nos entender. Vivemos 33 anos juntos e tivemos um filho, o Zezinho.
O Zé Turquinho começou como mascate e vendia suas mercadorias em Alto Araguaia, Alto Garças, Itiquira e Guiratinga. Com o dinheiro do comércio, ele comprava gado e terras. Ele comprou primeiro essa área do Vale Rico até chegar no Rio Vermelho, com divisa no Córrego Tadarimana. Nesta época, não tinha estrada para Guiratinga, tinha que ir por Alto Garças. Então, com a ajuda do Sr. Elson Moreira, ele abriu uma picada para chegar até no Rio Vermelho, lá na rodovia. Atravessava-se o rio numa jangada, feita de madeira.
Depois ele comprou outras terras para colonizar. Ele comprou um jipe e escreveu nele: “Colonizadora Norte de Mato Grosso. Vendem-se terras em Rondonópolis. Um ano de carência, passagem de migração.” E fez um convênio com o governo para migrar o povo para cá, com tudo de graça, de qualquer lugar, e saía por aí com esse jipe, fazendo propaganda de Rondonópolis.”
NOTA DO AUTOR:
Quando se refere a “Otacílio Fontoura”, é porque ele, além de juiz de paz era também comerciante proprietário da Casa Fontoura e de um pequeno posto de combustível.
Quando diz que “ele morava lá na Cidade Salmen”, é porque Zé Turquinho tinha o desejo que o centro da cidade fosse lá. Ele era um sujeito visionário porque realmente a ponte e a BR foram naquela direção para seguir a Cuiabá e ao norte do estado.
Salmen Hanze(Zé Turquinho) era um mercante na década de 30. Ele recebia mercadorias no porto do rio Correntes e distribuía em carros de bois nas regiões de Alto Araguaia, Alto Garças, Itiquira e Guiratinga. Ele conheceu Jupia em Itiquira ainda criança de apenas dois anos de idade porque se tornara um grande amigo de seu pai que faleceu logo um tempo depois. Antes de falecer, o pai de Jupia pediu a Zé Turquinho que cuidasse de sua família na sua falta e ele assim o fêz.
Quis o destino que anos mais tarde eles se reencontrariam e se tornariam marido e mulher.
Jupia criou e ajudou a criar outras crianças, situação corriqueira naquela época devido as dificuldades encontradas por muitas mulheres que eram deixadas pelos maridos.
Foi membro fundadora do Lions Club de Rondonópolis, sempre muito atuante fazia questão de sempre estar com o broche em sua lapela.
Jupia e Zé Turquinho doaram o terreno para a construção da Santa Casa de misericórdia de Rondonópolis. O Aeroporto nos altos da Fernando Corrêa foi instalado em uma área cedida por eles também.
Não era apegada a bens materiais e dizia que sempre ensinou os filhos a não “derramarem sangue” por causa de terras.
Andava sempre com dinheiro trocado e moedas no console de seu carro para doar aos pedintes.
Uma grande mulher à frente de seu tempo apesar de medir aproximadamente 1,55mts de altura.

Roberto Barcelos fotógrafo e escritor: autor do Livro Memórias Vivas de Rondonópolis.
“Onde o Homem passou e deixou marcas de sua existência, aí está a sua história” Jacques Le Goff.

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