Variedades

Que cara terá a Globo depois das mudanças?

Com a dispensa de tantos nomes emblemáticos, emissora aposta em renovação do público, mas pode se desconectar de quem a fez ser líder

Houve um tempo em que o público sabia exatamente quem e o quê encontraria ao ligar a TV. Principalmente quando se estava falando da Globo. Criadora de um padrão de qualidade que parecia inabalável, a líder de audiência soube como nenhuma outra fidelizar a audiência diante de suas atrações. E o compromisso com o público era baseado em princípios como a solidez da grade de programação e o elenco estelar, que nenhuma outra emissora jamais conseguiu montar. E, principalmente, manter.

Um destes pilares vem sendo abalado, dia após dia, desde que o canal do plim-plim decidiu cortar custos para se preparar para o futuro. De olho no digital e na forte concorrência das plataformas estrangeiras de streaming, a TV Globo se desfez de alguns dos nomes fundamentais para a história do canal. Profissionais que, aliás, se confundem com a própria história da televisão brasileira.

Entre os comunicadores, Xuxa e Fausto Silva foram as dispensas mais sentidas. A Rainha dos Baixinhos ficou na emissora até 2014, depois de brilhar por quase três décadas e fazer a TV da família Marinho lucrar muito. Faustão, com 32 anos de vínculo, colecionou recordes: consagrou-se líder aos domingos, antes dominados por Silvio Santos; virou dono do maior salário da televisão brasileira e, em troca, oferecia um dos maiores faturamentos da Globo. Não foi o bastante para que seguisse no Domingão. Como Xuxa, saiu da TV em que se consagrou sem direito a despedidas e homenagens oficiais. Uma lástima.

Se formos olhar a lista de atores e atrizes que brilharam em produções históricas da dramaturgia nacional e, hoje, ostentam o rótulo de ex-globais, é possível ter ainda mais clara a dimensão da mudança. Tarcísio Meira, o maior galã de novelas de todos os tempos, foi dispensado ao lado da mulher, Gloria Menezes, outra estrela de primeira grandeza. Morreu em agosto, vítima da Covid-19, sem vínculo com a rede que ajudou a erguer. Um dos maiores de sua geração, Antonio Fagundes teve destino idêntico. Vera Fischer, Malu Mader, Patricia PillarLázaro Ramos, Ingrid Guimarães, Reynaldo Gianecchini, Stênio Garcia e Leticia Spiller engrossam a lista que, de tão extensa, certamente tornaria a leitura extenuante.

A Globo não mente ao alegar que o futuro é assim e acenar com portas abertas e prováveis contratos por obra para as estrelas de outrora. Mas o fato é que, com tantas mudanças simultâneas, a emissora pode acabar descaracterizada. Lembram das entradas triunfais de Renato Aragão no Criança Esperança? Pois é. Sem ele, o show deixou de repercutir da mesma forma. Também é sintomático que, a cada domingo, o público faça o nome de Fausto Silva escalar os trending topics do Twitter. Há um luto provocado pela falta das videocassetadas, do estilão do apresentador e até das coreografias das bailarinas mais famosas do Brasil.

Os entusiastas das profundas transformações implementadas pela emissora se apegam ao argumento de que é preciso renovar para atrair a audiência jovem. Faz sentido. Mas não há no horizonte nada que garanta que a geração TikTok vai passar a ligar a TV para ver Malhação às 17h30. Ops! Não haverá mais Malhação, é verdade! E aí está o perigo: mirando no público mais jovem – e com mais apelo junto ao mercado publicitário – a Globo corre o risco de se desconectar do público mais maduro, que a fez ser a gigante que é.

Fenômeno parecido aconteceu com a tradicional Rádio Globo, do Rio de Janeiro, tempos atrás. Líder de audiência, extremamente popular e ancorada na experiência e no carisma de grandes comunicadores, um belo dia a emissora resolveu mudar. Ficou modernosa, trouxe nomes da TV para o dial e…flopou! Em junho de 2021, não aparecia sequer entre as

 

TV é diferente do rádio, claro. Mas é fato que televisão é hábito! E, mesmo nas maiores mudanças, o público precisa se sentir acolhido, tem direito a ser preparado para o que virá.

E o que virá, senhoras e senhores, ao que parece, é um futuro em que cada vez mais fará menos sentido chamar alguém de global.

Um futuro que, como diz o jingle da mensagem de fim de ano, já começou…

Metrópoles

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