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Ofensas a Barroso: sinal de alerta em Miami

Por Vitor Hugo Soares

“O Brasil adoeceu”, registra o ministro

mão aponta em direção oposta ao ministro Luís Roberto BarrosoIgo Estrela/Metrópoles

Os fatos registrados das ofensas, hostilidades e ameaças dirigidas ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Roberto Barroso, dia 2 último, quando transitava pelo aeroporto internacional de Miami – documentados com imagens e áudios de fácil acesso às autoridades dos Estados Unidos e do Brasil – são graves. Assustadoramente emblemáticas no potencial de ódio, preconceito e agressividades revelados, cobram investigação cabal e punição severa a executores e ideólogos dos covardes e repulsivos atos. Cabe ressaltar que surpreende a poucos, que o episódio tenha ocorrido na cidade, da Flórida, para onde viajara, dias antes, o ex- presidente Jair Bolsonaro com familiares e seguidores de confiança, fugindo ao dever ético e democrático de passar a faixa presidencial ao eleito nas urnas, Luiz Inácio Lula da Silva.

Imagino que aquele irônico viajante francês, de passagem pelo famoso balneário norte-americano, nas vizinhanças do Caribe, tenha comentado com os seus botões: “Amaldiçoado seja aquele que pensar mal destas coisas”.

Mas quem viu de perto e testemunhou os múltiplos e repetidos sinais de mandonismo, arrogância, ofensas proferida e o mais completo descaso com as leis, princípios éticos e educação – além de boa dose de fascismo latente – , sabe o quanto de gravidade representa este caso de Miami. Em especial o ministro do STF que sentiu, diante dos olhos e na pele, a sanha odienta da turba sem freios, quando tentava embarcar de volta ao Brasil.

Não temos, até aqui, nenhum dado concreto de apuração dos fatos registrados no terminal de embarque do aeroporto de Miami – um dos maiores e mais movimentados do mundo, repleto de gente de todas as partes mas, principalmente, da América Latina e do Caribe, que vive na Flórida ou lá está de passagem, como o ex- presidente brasileiro – da parte das autoridades de segurança e informação dos EUA, nem do Brasil.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, prometeu enviar documento à presidente do STF, ministra Rosa Weber, “frisando que a Polícia Federal está à disposição para investigar o episódio de agressão e ameaças a ministros do STF, por extremistas antidemocráticos que perseguem magistrados nas ruas, aeroportos, restaurantes etc”, escreveu Dino nas redes sociais. Genérico demais, conclusivo antes de investigar, mas a palavra da autoridade de que algo pode ser feito para impedir que a serpente ponha mais mais ovos, e fatos assim prosperem e se repitam, impunemente.

Nos vídeos divulgados na internet escuta-se os gritos: “sai do voo”, xingamentos e ofensas pessoais inimagináveis (fora de tempos temerários, como os que atravessamos), ameaçadoras e sem temor à lei ou autoridades da segurança pública, e negação do direito constitucional de todo cidadão ir e vir. Retrato completo de tudo, a sociedade teve na nota assinada pelo ministro do STF, vítima das bárbaras agressões. .

“O Brasil adoeceu”, registra o ministro. E destaca o perigo do discurso de ódio que se instalou no país nos últimos anos: “é uma mistura de ódio, ignorância, espírito antidemocrático e falta de educação. Espero que consigamos curá-lo e que uma luz espiritual ilumine essas pessoas”, disse Barroso. Está aí a oportunidade para o novo governo demonstrar que isso começa a mudar. A ver.

 
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. ¨-mail: vitors.h@uol.com.br

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