Opinião

O que Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado foram fazer em Israel

Tudo por uma foto

Por Ricardo Noblat

As férias dos Poderes da República de dezembro e janeiro já passaram. Ainda estamos a dois meses e poucos dias das férias de junho.

É nos períodos de férias que os políticos alimentam os jornalistas com as chamadas “flores do recesso” – algo que parece notícia, é tratado como notícia, servido como notícia, e mais tarde se revela nada.

Pois foi justamente quando deveriam estar pegando no pesado para se mostrarem produtivos aos olhos dos pagadores de impostos que os governadores de São Paulo e de Goiás embarcaram para Israel.

Férias antecipadas? Não, pegaria mal. Visita oficial? Não. Para reuniões capazes de atrair novos investimentos para seus estados? Também não. Por que, diabos, voaram para Israel?

A resposta poderia ser: se Bolsonaro tem o direito de tirar uma foto ao lado de uma multidão na Avenida Paulista, por que Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado não têm o mesmo direito de dar um pulo em Tel Avid para posar ao lado do primeiro-ministro de Israel e do presidente?

Tudo por uma foto – a de Bolsonaro, para meter medo na justiça que em breve deverá prendê-lo e condená-lo; a dos governadores, para agradar os órfãos futuros de Bolsonaro, desde já à procura de um novo Messias.

No momento em que Israel é alvo de ataques pesados no mundo inteiro por promover o massacre dos palestinos em Gaza e em outras partes do Oriente Médio, Tarcísio e Caiado foram prestar solidariedade ao governo de Israel. Essa não é uma flor do recesso.

Nem o presidente americano Joe Biden, o principal financiador da guerra, se revela mais tão solidário com Israel. À medida em que perde votos para Donald Trump, candidato a sucedê-lo, Biden cobra que Israel suspenda a guerra para que inocentes palestinos não continuem sendo mortos de fome e por bombas.

Nos seus estados, Tarcísio e Caiado adotaram a política de que “bandido bom é bandido morto”. Mas palestino não é bandido, é um povo que em 1948 foi desalojado de suas terras para dar lugar a um outro povo, o judeu. Desde então vaga por aí como os judeus vagavam antigamente.

O governo de Israel usou Tarcísio e Caiado para dar uma cutucada em Lula, que comparou a mortandade dos palestinos em Gaza com a mortandade dos judeus na Alemanha nazista.

Tarcísio e Caiado usaram o primeiro-ministro e o presidente de Israel de olho nas eleições municipais brasileiras deste ano e na presidencial de 2026. Vidas, para eles, pouco importam.

Ricardo Noblat é jornalista

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