Opinião

Mulheres: uma visão panóptica

As mulheres estão adstritas a esse ‘controle’ de forma quase ‘natural’.

Rosana Leite Antunes de Barros .

o ‘ser mulher’ sob vários prismas é primordial para compreender as opressões a que elas são expostas. A construção panóptica se deve ao filósofo Jeremy Bentham. Após, Michel Foucault se utiliza do mesmo conceito para tratar do poder nos presídios.

Panóptico é a forma de uma construção que favorece a observação da totalidade de toda a superfície interior, a partir de um referencial, ou um ponto. Serve para facilitar o controle das pessoas.

Em presídios o modelo é bastante utilizado principalmente através das torres, onde aqueles e aquelas em situação prisional são notados e notadas a todo instante. O poder se encontra em não se saber os momentos de descanso daqueles que estão no controle. Como os observados e observadas não possuem uma visão adequada, apenas os observadores, vive-se em absoluta situação de sobreaviso.

Bentham fala da arquitetura panóptica em forma de anel, lembrando celas, onde as janelas irradiam a luz que permite atravessar lado a lado. É ser visto sem ver.

O efeito mais importante seria a indução de um estado de consciência de visibilidade, assegurando, assim, o poder.

As mulheres estão adstritas a esse ‘controle’ de forma quase ‘natural’. Só não é natural por não ser certo e legal viver sendo veladas. Contudo, os olhares estão as vigiar e as cuidar para que elas possam se ‘enquadrar’ sem sair do local a que a se deseja que elas estejam, e permaneçam.

Dentro de casa, esse mesmo olhar de ‘funil’ as faz passar por inúmeras violências domésticas. Precisam de adequação, precisam cumprir regras, não podem errar.

O policiamento se faz constante, como se uma autoridade maior estivesse a cuidá-las. Quem são essas autoridades? Em casa, o gênero masculino. Nas ruas, aqueles e aquelas que estão a inspecionar, como forma de discriminação, as impedindo de executarem as ações normais para bem viver.

Segundo Foucault, o resultado esperado por essa forma de agir é a docilização dos corpos. Um corpo pronto para ser esquadrinhado através da disciplina. É a rendição na mais literal forma de se expressar. E como as mulheres são vistas e tratadas?        

Mulheres ainda não são proprietárias de seus corpos, e isso é totalmente visível nas legislações construídas sem a oitiva delas, não atendendo aos seus interesses.

Mulheres que são obrigadas a algo, mesmo em situações diferenciadas, tal como no período pandêmico. Mulheres que não podem se portar com naturalidade, para não serem ‘confundidas’. Mulheres que não podem transitar livremente sem receber ‘cantadas’. Mulheres que devem pedir vênia aos companheiros para realizar algo, e por aí afora.

Os espaços de vigia para elas são reais. A bem da verdade, elas devem provar a competência todos os dias, para poderem estar nas muitas localidades, inclusive em casa. É como se a todo o momento aqueles avisos estivessem a lhes dizer: “Mulheres: sorriam, vocês estão sendo filmadas”.  

RepórterMT

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.

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