Opinião

Inglês no Natal e Ano Novo.

 Jerry Mill

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Todo ano é assim: na Terra Brasilis, como num passe de mágica, se há crise, ela desaparece; se o dinheiro estava curto, ele ressurge nas suas mais diversas formas em mimos e futilidades. Por fim, se o tempo é de celebração, como rege o costume passado de geração a geração por aqui, também é época de cometer vários excessos gastronômicos e alcoólicos.

Abraços, beijos e presentes nem sempre dados com sinceridade ou recebidos com satisfação são frequentes nas incontáveis confraternizações ou (des)encontros familiares promovidos por toda parte, e depois obrigatoriamente postados com grande pompa e circunstância (mas raramente sem um copo de bebida por perto ou uma pose com um quê de constrangimento tardio) nas tais redes bestiais, digo, sociais. Convenhamos, as festas que têm marcado o final de ano nas últimas duas décadas, ao menos para muitas personas, são sinônimo de exibição desnecessária, e exposição ao ridículo extremo.

Apenas um ou outro homo sapiens modernus aproveita esses dias do ano para fazer algo que comprovadamente lhe faça bem, como ler ou reler um livro – seja em que formato for. E raros são aqueles aprendizes que seguem o (bom?) conselho do seu professor ou da sua professora e utilizam alguns minutos ou horas do seu dia para revisar – apenas folhear, talvez – o seu livro escolar ou as suas anotações das aulas de inglês, for example. O tempo dedicado a ouvir ou assistir (novamente) arquivos em áudio ou vídeo na English language, então, é de uma raridade ainda mais absurda.

O que (sempre) chama a atenção nessa quinzena do ano é que, se muito, são tocadas as mesmas músicas e ditas à exaustão as mesmíssimas e manjadas palavras ou frases feitas: no caso, a tradicional Jingle Bells e a popularíssima Happy Xmas/War Is Over, seja na voz do falecido John Lennon (1940-1980) ou na versão da sumidíssima cantora Simone; bem como Merry/Happy Christmas/New Year ou Happy Holidays. Quanta criatividade!

Na triste e lamentável realidade brasileira, nosso English vocabulary referente às festas que celebram o nascimento do Salvador e a chegada de um novo ano se restringe a poucas (e nem sempre boas) palavras, dentre as quais se destacam Santa Claus, chester e drinks (ou booze) – que não podem faltar! Sei que posso estar exagerando, mas o que eu quero dizer com isso é que, nesse momento tão especial do ano, até mesmo a nossa tão propalada religiosidade como povo tem papel coadjuvante na nossa rotina (“aproveitar esses dias para curtir a família e os amigos” é hors concours, cherrie!) e o nosso tão apregoado desejo de aprender a língua inglesa parece brochar, desabrochando em seu lugar o desleixo intelectual e a alienação compartilhada.

Enquanto isso, o tempo (senhor de todas as coisas) segue o seu rumo, levando consigo nossos sonhos, nossos planos, nossas vidas. Pense nisso o quanto antes, e não apenas no ano que vem, ou no outro, ou no outro…

 

 Jerry T. Mill é mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis.

 

 

 Fonte:  Jerry T. Mill

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