Opinião

Este filme, você já viu. No fim, depois do tiroteio, o bandido escapa

Pode estar vindo por aí mais uma Comissão Parlamentar de Inquérito para infernizar a vida de Bolsonaro

Por Ricardo Noblat

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Boa parte dos senadores celebra discretamente mais uma chance de extrair vantagens do governo com o anúncio feito por Randolfe Rodrigues (Rede-AP) de que reuniu as assinaturas necessárias para protocolar o pedido de abertura de uma CPI destinada a investigar suspeitas de roubalheira no Ministério da Educação.

CPI é uma ótima oportunidade de fazer negócios, a maioria deles inconfessáveis. Governo algum admite ser alvo de uma CPI mesmo que ela não dê em nada, e quase sempre não dá. Por mais barulho que produza, seus relatórios finais acabam sendo esquecidos. De todo modo, barulho, e mais em ano eleitoral, causa estragos.

Bolsonaro autorizou o senador Ciro Nogueira (PP-PI), chefe da Casa Civil da presidência, a valer-se de qualquer tipo de arma para impedir a instalação da CPI dos Pastores Dourados. Embora provisório, o nome faz sentido. Bolsonaro deu passe livre a pastores evangélicos dentro do ministério. Glória a Deus!

Dois deles, Gilmar Santos e Arilton Mourão, cobraram propina a prefeitos interessados em obter para seus municípios recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. A propina poderia ser paga em dinheiro vivo, em quilos de ouro ou mediante a compra de exemplares de uma edição especial da Bíblia.

Para que uma CPI seja criada são necessárias 27 assinaturas de senadores. É o número mínimo. Randolfe disse que colheu as 27. O provável é que conte com mais assinaturas, guardadas em segredo. Nogueira não sabe quem assinou ou não. Na dúvida, começou a chamar senadores para conversar em seu gabinete.

O processo de convencimento dos senadores para que não assinem o requerimento de pedido de abertura da CPI, ou para que retirem suas assinaturas, passa, naturalmente, pela oferta de agrados – liberação do pagamento de emendas ao Orçamento, cargos nos diversos escalões do governo e a eterna gratidão de Bolsonaro.

Nogueira tem larga experiência no ramo. Já esteve dos dois lados do balcão. No momento, está do lado de dentro como fonte pagadora. Em 2014, quando estava do lado de fora, recebeu propina do grupo J&F para apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Quem disse? A Polícia Federal, que o investigou.

A levar-se em conta a folha corrida de Aras, aposte que ele não oferecerá. Aras está no cargo para livrar a cara de Bolsonaro, dos filhos dele e de aliados importantes. É o caso de Nogueira. O relatório final da CPI da Covid-19 foi parar nas mãos de Aras. Deu no quê? Deu em nada até aqui. Nem dará.

Ricardo José Delgado Noblat é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, Noblat foi editor-chefe do Correio Braziliense e da sucursal do Jornal do Brasil em Brasília. Atualmente, Noblat mantém um blog, o Blog do Noblat, no jornal Metrópoles.

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