Opinião

Educação financeira de pai para filho

Por Patricia Capitanio

 

Falar sobre dinheiro ainda é um tabu para a maioria dos brasileiros. Uma pesquisa realizada, em 2022, pelo Banco BV e o Instituto MindMiners revelou inclusive que 49% das famílias evitam falar do assunto “para não ficarem tristes”. Mas será que essa dinâmica é saudável para educar os filhos?

O primeiro ponto a se considerar aqui é como está a sua relação com o dinheiro, porque a gente só ensina o que de fato exercita. Se a criança vê os pais apenas consumindo e não tem o exemplo de “fazer contas” e planejar, ela vai achar que tudo é muito fácil e pode crescer uma pessoa que “continua comprando”, ou seja, consumista.

Quando observamos o papel do pai, ainda hoje ele é a figura provedora, uma espécie de super herói que “dá conta de tudo”. Mas é importante desmistificar isso. O homem precisa demonstrar aos filhos as suas fragilidades, dizer que não pode comprar aquele brinquedo agora, que não é uma prioridade. É fundamental aprender a lidar com frustrações para crescer saudável. Diga “não” ao seu filho.

Infelizmente, é muito comum ouvir de pais e mães o discurso de que fazem sacrifícios para dar ao filho “tudo que não tiveram”, no entanto, essa crença impede que as crianças enfrentem dificuldades importantes para poder se tornarem adultos funcionais e resilientes.

Tendo uma vida financeira confortável ou não, explique desde muito cedo questões básicas como a diferença entre necessidade e desejo, a importância do desapego e os valores das coisas. Quando se é criança, existe aquela ideia de que só é preciso se preocupar com dinheiro quando for adulto e trabalhar, o que não é verdade.

Comece mostrando às crianças que para ter alguma coisa é preciso se esforçar. Ao entender o esforço exigido, nosso e o do outro, o indivíduo passa a valorizar muito mais o dinheiro. Também é fundamental incentivar o hábito de poupar. Você pode inclusive criar brincadeiras que estimulem a imaginação do seu filho (mural dos sonhos). Assim ele exercita o planejamento para comprar/conquistar algo que deseja muito ter.

Educar é um processo de erros e acertos, então, talvez, seu filho erre algumas vezes até conseguir vencer os desafios. Mas é essencial compreender que querer e precisar são coisas diferentes. Conforme as crianças vão crescendo, naturalmente costumam assimilar essa diferença, mas a habilidade ganhará mais força se exercitada sempre dentro de casa.

Outro ponto importante é incentivar o empreendedorismo. Deste modo, a criança aprenderá a sair da condição de passividade ou mesmo frustração diante de desafios. Habilidades como criatividade, iniciativa, visão de futuro e persistência são essenciais para solucionar pequenos problemas e vai se tornar um diferencial na vida do seu filho.

Pais, os filhos precisam entender que o dinheiro vem do esforço e do cumprimento das obrigações do trabalho, portanto, uma proposta interessante é distribuir algumas tarefas da casa, como arrumar a cama, retirar o lixo, levar o cão para passear, lavar a louça após o almoço, e estabelecer recompensas financeiras.

Atenção a este detalhe: não basta ensinar a poupar dinheiro, tem que aprender a investir. O quanto antes planejar o futuro financeiro da criança, melhor. Existem várias alternativas de investimento, entre eles, aplicações em previdência privada para menores ou você pode aportar dinheiro em ativos que possibilitem um bom retorno. Que tal fazerem isso juntos, a família toda?

O matemático e filósofo grego Pitágoras tem uma importante frase: “Eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos”. Em um contexto social com 66 milhões de endividados no Brasil (CNDL, 2023), uma inadimplência histórica, é fundamental que pais e educadores busquem ressignificar essa área sensível para o bem-estar e a felicidade da família. Vamos fazer isso juntos?

 

Patricia Capitanio é graduada em Ciências Contábeis, com MBA em Auditoria e perícia Contábil, Liderança e Coaching e Gestão Organizacional, palestrante, escritora, mentora e consultora em gestão financeira

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