Opinião

Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?

A situação de Bolsonaro e de sua gangue é de “pé de cachorro”, como se diz no Espírito Santo

 
bolsonaro emocionado em entrevista - metrópolesReprodução/Pânico

O diabo é sábio não porque é diabo, mas porque é velho. Como anunciado, ontem, neste espaço, está aberta a temporada de entrega de cabeças para que Jair Bolsonaro salve a sua.

Se quiserem escapar à degola, o tenente-coronel Mauro Cid, conselheiro e ajudante de ordem do ex-presidente, e Ailton Barros, ex-major do Exército, que se virem sozinhos.

Os dois estão presos. Barros era tratado por Bolsonaro como “irmão”. Há mensagens de Barros para Mauro Cid que os ligam à tentativa de golpe do 8 de janeiro. Virem-se sozinhos, pois.

Vale o aviso para o delegado da Polícia Federal e ex-ministro da Justiça Anderson Torres, próximo de completar 120 dias de prisão em um Batalhão da Polícia Militar, em Brasília.

Torres abandonou seu posto de Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal na antevéspera do golpe. Em sua casa foi encontrada uma minuta do que se passaria se o golpe desse certo.

O aviso vale também para todos os citados no caso da falsificação da carteira de vacina de Bolsonaro, sem a qual, perdida as regalias da presidência, ele não poderia circular nos Estados Unidos.

Arriscava-se a ser obrigado a apresentar o comprovante de que fora imunizado contra a Covid-19; e na falta dele, a ser recambiado para o Brasil, o que por ora não estava nos seus planos.

 
 

Bolsonaro adiou sua volta o mais que pôde com medo de ser preso depois do 8 de janeiro. Se tivesse dado ouvidos a Michelle, sua mulher, teria ficado em Orlando por mais alguns meses.

Mas a pressão para que voltasse dos seus aliados, aqui, e dos seguranças que haviam embarcado com ele, entre os quais Mauro Cid, foi muito grande. Bolsonaro cedeu, e agora se arrepende.

Arrepende-se de muitas outras coisas, segundo dizem seus porta-vozes informais empenhados em defendê-lo de qualquer acusação desde que suas identidades não sejam reveladas.

Dizem que ele se arrepende de não ter dado tanta importância à pandemia que matou 700 mil brasileiros; acreditou que ela perderia força quando o vírus contaminasse metade das pessoas.

 

Dizem que ele se arrepende de ter protelado a compra de vacinas só porque o então governador de São Paulo, João Doria, seu desafeto, comprara primeiro a CoronaVac, vacina chinesa.

Omitem que Bolsonaro fora avisado com antecedência pelo ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, a quem demitiu, que haveria uma tragédia se o governo não agisse com presteza.

Em favor de Bolsonaro, suas bocas de aluguel dizem ainda que a derrota para Lula foi o preço que ele pagou por todos os seus erros, e que, portanto, está quites com o país, não devendo mais nada.

Quites? Vão dizer aos parentes dos que morreram por falta de oxigênio em Manaus durante a pandemia que Bolsonaro não lhes deve mais nada; ou aos dos que morreram por falta de vacinas.

Vão dizer aos eleitores de Lula, impedidos pela Polícia Rodoviária Federal de chegar às urnas no dia 30 de outubro, que a derrota de Bolsonaro quitou sua dívida com eles, de vez que Lula venceu.

Vão dizer a todos que votaram em Lula por temerem o fim da democracia que ela se manteve de pé apesar do golpe que igualmente pegou Bolsonaro de surpresa. De surpresa… Sei.

Sem mais delongas: chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Aguentem as consequências dos seus atos.

Ricardo Noblat é jornalista

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