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Buraco do Inferno, um dos pontos mais perigosos do DF

Criminosos transformaram um hospital abandonado em uma espécie de albergue do crime, onde o tráfico e o consumo de drogas correm soltos

 

O cheiro de fezes e urina misturado ao de restos de alimentos apodrecidos deixa o ar praticamente irrespirável no interior de um prédio inacabado usado como esconderijo por traficantes, usuários de drogas e criminosos de toda sorte. Incrustado no centro de Planaltina e prestes a completar 12 anos de abandono, o antigo Hospital Santa Paula transformou-se em um esqueleto de concreto e ferro retorcido.

Conhecido como Buraco do Inferno, o local é palco de assassinatos brutais, roubos e estupros. A edificação é responsável por boa parte das ocorrências policiais registradas no Setor Tradicional. Na última delas, um homem teve a cabeça esmagada a golpes de tijolos arrancados das paredes.

A equipe de reportagem do METRÓPLE passou parte de uma noite circulando pelos três pavimentos erguidos em uma das áreas mais valorizadas da região administrativa. Localizado na Avenida Independência, entre uma agência do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e um posto do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o edifício foi “moldado” pelos bandidos e se transformou em um albergue do crime. Várias entradas e saídas foram abertas para facilitar uma fuga rápida caso a polícia se aproxime ou o ponto seja cercado por viaturas.

 

Os sinais espalhados pelo chão denunciam o excesso de consumo de crack. Isqueiros queimados, latas de alumínio usadas como cachimbo e papelotes vazios para embalar pedras apinham o assoalho. Roupas em farrapos jogadas nos cantos, pares de tênis descartados e paredes pichadas com figuras de apologia ao crime inundam o pavimento.

A quantidade de restos de comida jogados sobre pedaços de espuma denunciam que usuários dormiram no local, em um ambiente completamente insalubre. Uma das paredes traz o desenho de um palhaço – na linguagem das ruas, um criminoso que ostenta a tatuagem do palhaço demonstra disposição em matar um policial.

Os últimos dois homicídios ocorridos no interior do prédio chamam a atenção pela brutalidade. No último caso, Rodrigo Pereira de Sousa, 37 anos, foi assassinado a golpes de tijolos arrancados das paredes da edificação. O corpo do homem foi encontrado na manhã de 28 de fevereiro deste ano, nos fundos do antigo hospital, em uma passagem com assoalho de ladrilho. O crânio da vítima foi esfacelado em razão da violência dos golpes. A vítima teria sido morta em um acerto de contas motivado por dívidas de drogas.

Ao longo de 2019, 15 pessoas foram presas em flagrante na área da edificação por diversos tipos de crime, incluindo tráfico de drogas, roubo e uso de substância entorpecente. Quando a reportagem percorreu todos os pavimentos do Buraco do Inferno, havia rastros da passagem de usuários. No entanto, em função do recente assassinato, o grupo deixou o local.

Outra morte violenta teve como vítima uma mulher dependente química. O corpo de Sílvia Cristina da Silva Pedro foi encontrado no fosso do elevador desativado que existe no prédio em dezembro de 2018. Na época, os investigadores chegaram até o autor do crime. Segundo as apurações da 16ª DP, o suspeito é um adolescente.

O caso foi encaminhado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). De acordo com o inquérito, logo após matar Sílvia, o jovem trocou de roupa e seguiu para a Rodoviária do Plano Piloto, onde traficava drogas. Ainda segundo a PCDF, a Polícia Militar localizou o cadáver enquanto atuava em outra ocorrência nas proximidades.

Os PMs notaram um rastro de sangue e seguiram as marcas até encontrar o corpo jogado no fosso do elevador. O suspeito foi detido horas mais tarde por outra equipe da corporação. O menor acabou apreendido e passará três anos cumprindo medida socioeducativa.

A equipe de reportagem foi até a Administração Regional de Planaltina para saber as medidas que estão sendo tomadas a fim de evitar a utilização do prédio abandonado por grupos de criminosos. De acordo com a assessoria de comunicação, o DF Legal foi acionado para notificar os proprietários da edificação – algo de um imbróglio na Justiça desde 2009.

“Em 3 de março, o DF legal fez uma notificação dando um prazo de até 10 dias para que os responsáveis pelo prédio garantam a manutenção, a proteção e a salubridade da edificação”, explicou.

Metrópoles apurou que a notificação foi entregue nas mãos do médico Juarez de Paula, que a assinou o pedido. A reportagem ligou para uma das clínicas onde o profissional trabalha e foi informada por um funcionário que o prédio havia sido vendido. O médico foi acionado por meio de dois números pessoais de telefone, mas ele não atendeu as ligações.

Fonte: Site Metrópole

 

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