Opinião

Augusto Heleno, um general “jocoso” que “brinca” com assunto sério

Não se dá ao respeito

Chegada do depoente da CPI da CLDF, general Augusto Heleno, ex-ministro de Jair BolsonaroHugo Barreto/Metrópoles

Em dezembro de 2021, ao falar aos formandos do Curso de Aperfeiçoamento e Inteligência da Agência Brasileira de Inteligência, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, atacou o Supremo Tribunal Federal.

A certa altura, disse que precisava tomar “Lexotan na veia” para não levar Bolsonaro a adotar “uma medida drástica” contra o tribunal”. Por quê? Porque, nas palavras do provecto general:

“Temos um dos Poderes que resolveu assumir uma hegemonia que não lhe pertence, não pode fazer isso, está tentando esticar a corda até arrebentar. Nós estamos assistindo a isso diariamente, principalmente da parte de dois ou três ministros do STF”.

“Eu, particularmente, que sou o responsável por manter o presidente informado, tenho que tomar dois Lexotan na veia por dia para não levar o presidente a tomar uma atitude mais drástica em relação às atitudes que são tomadas por esse STF”.

Convidado a depor à CPI do Golpe da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Heleno afirmou que tudo não passou de uma “brincadeira”. E justificou-se:

“Falei de maneira jocosa”.

Ser jocoso significa ser brincalhão, divertido; é ter a capacidade de propagar alegria, de fazer rir, principalmente através da gozação, da zombaria. Não há registro de que os agentes de espionagem que se formavam tenham achado engraçada a palestra do general.

Aos deputados, Heleno disse que sempre procurou atuar como uma espécie de “poder moderador” junto a Bolsonaro, afinal, o presidente “passou o mandato sendo massacrado e conseguiu manter a tranquilidade e a calma”. (Muito engraçado.)

Quanto à tentativa fracassada de golpe em 8 de janeiro, respondeu com conhecimento de causa:

“Golpe precisa de líderes. Não é uma atitude simples”.

Quanto ao acampamento dos golpistas em frente ao QG do Exército no Setor Militar Urbano de Brasília, o depoente observou que “era um local seguro e ordeiro onde se faziam reuniões para orações e discussões de assuntos políticos”, nada mais.

Deve ter escapado à atenção de Heleno que, no acampamento, foi fabricada a bomba que poderia ter destruído parte do aeroporto da cidade; e que dali saíram os que depredaram os prédios do Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal.

Por fim, o general defendeu com entusiasmo o golpe militar de 64 que suprimiu a democracia durante 21 anos porque salvou o Brasil “dos comunistas”.

Ricardo Noblat é jornalista

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *