Opinião

As mãos de meu pai.

Obrigado, papai, por ter as mãos mais importantes que as minhas seguraram um dia

 

Eram mãos que denotavam ser seu possuidor pessoa de grande força interior, força que se restringiu a um único objetivo, o bem-estar da família. Papai, sempre foi um homem cuja vida esteve dedicada a nós e ao trabalho, tanto que nesse tempo ocupou importantes cargos e exerceu diversas funções nas quais muitos viam oportunidades para o enriquecimento fácil. José Afonso Portocarrero, Seu Porto, como era conhecido, nunca se sujeitou a sujá-las, não meu pai, ele permaneceu assim até o fim de sua jornada.

Mãos de um homem que sabia onde pô-las para não se comprometer perante Deus; mãos, que não deixaram de ser justas nem quando precisaram corrigir o rumo de seus filhos no intuito de colocá-los na direção certa. Atitudes, que na maioria das vezes foram tomadas através de exemplos morais, no entanto, também soube usar delas de maneira firme para apontar o caminho da retidão. Nas raras vezes em que não conseguiu, procedeu como se as falhas tivessem sido suas por não ter agido com equidade, ou mesmo por ter falhado em algum momento de nossa educação.

Mãos, que com o passar do tempo foram perdendo a força de quando a segurávamos quando fomos aos lugares que conhecemos em sua companhia; mãos, das quais ainda sentimos falta do contato com as nossas, do calor humano que emanavam e do amor que transmitiam ao pousarem sobre nossas cabeças e ombros. Somente seu toque era suficiente para erguer do desânimo e acalmar a dor, senti-lo eliminava a necessidade de palavras, mesmo assim elas vinham em apoio a seus gestos.

Aquelas mãos, que juntamente com as de mamãe seguraram as dos filhos até poderem soltá-las na certeza de que seguiriam seus exemplos em todos os momentos que enfrentariam e que também serviram de apoio aos netos durante o tempo em que permaneceram sendo os faróis a guiar nossas travessias; mãos, que relutaram em aceitar que estavam livres para serem usadas somente para eles mesmos posto que até aquele momento só foram usadas para atender as necessidades dos outros.

Sim, aquelas mãos mereceram o descanso que tiveram quando passaram a segurar as nossas ao serem levadas para onde quisessem e fosse necessário; mãos, que de auxiliares passaram a ser auxiliadas pelas que tão bem souberam guiar; mãos, que foram tão queridas por sua esposa e filhos e pelas quais procuro agora fazer o necessário reconhecimento a tudo que fizeram por mim e por todos que estiveram ao seu alcance.

Espero ter aprendido a usar as minhas tão bem quanto meu pai usou as dele vez que são parte da continuação das suas.

Obrigado, papai, por ter as mãos mais importantes que as minhas seguraram um dia.

RepórterMT

Marcelo Portocarrero é engenheiro civil.

 

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