Opinião

A lágrima

Fomos vilipendiados, mas agora, instantaneamente alegres, simplesmente. Mas à alegria, se funde novamente a tristeza.

Por Ricardo Guedes

Beethoven escreveu a “Terceira Sinfonia (a Heroica)” em homenagem a Napoleão, na sequência a “Quinta Sinfonia”, esperançoso que estava à modernidade que Napoleão tanto trazia na quebra das monarquias Europeias. Triste e desesperançoso, na vivência do destruído e dos males que Napoleão trouxe em guerras, escreveu a “Sétima Sinfonia”, na melancolia de seu “Segundo Movimento”, usada no filme “Presságio” com Nicholas Cage como um hino ao fim do mundo, onde alienígenas, quiçá transcendentais, levam nossas crianças para mundos outros para o recomeço, em uma pequena “Arca de Noé”. Tive o acaso do prazer de presenciar Zubin Mehta regendo Beethoven na Philharmoniker de Berlim, onde, em um minuto de silêncio, que durou uma eternidade, todos se fizeram na mais profunda insolúvel mudez, que ali estavam os meninos de ontem da Segunda Guerra e do holocausto, todos já velhos, numa reflexão lacrimosa, perante o maestro Zubin Mehta, o mestre que então evoca das entranhas algum sentido para o amanhã.

Correu uma lágrima aos olhos de muitos, como aos olhos de além dos muitos. A todos os mortos, de todas as nações, de todos os povos, militares e civis, que morreram na Segunda Guerra Mundial, e em todas as guerras de nossa história e tristeza, crianças, velhos, jovens, aos que são considerados assim de como adultos, e a todos os demais.

Estamos na alegria dos nossos Brasileiros, civis, resgatados de Gaza, digo, resgatados, a “sétima lista”, de que provém da possível retaliação à mediação do Brasil na ONU, contrariando interesses de guerra e da hegemonia política no Conselho de Segurança. Fomos vilipendiados, mas agora, instantaneamente alegres, simplesmente. Mas à alegria, se funde novamente a tristeza.

Hoje o texto é curto como uma lágrima, na imensidão de lágrimas que as lágrimas geram, na esperança de que os pobres e oprimidos, naquilo que “Spartacus” de Kubrick representa, se sobreponham aos desvalidos Senhores do holocausto, de ontem ao amanhã.

Que do mal insurja a esperança.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago

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