Opinião

Bolsonaristas atravessam a rua para pisar numa casca de banana

O governo afia as armas para controlar a CPI do Golpe

Por Ricardo Noblat

Quem tem maior poder de fogo para controlar a CPI do Golpe de 8 de janeiro a ser instalada no Congresso? A oposição bolsonarista ao governo? Ou o governo? A princípio, o maior poder de fogo é sempre do governo, de qualquer governo, desde que saiba usá-lo.

Mas isso só não basta. Bolsonaro usou seu poder para impedir a criação da CPI da Covid, e não adiantou. Usou-o para não se desgastar, e não conseguiu. Não foi apenas por incompetência: sua causa era ruim. Ele errou escandalosamente no combate ao vírus.

A causa do governo Lula é muito boa para ele, e a da oposição infeliz para ela. O golpe era para derrubar um presidente eleito. A oposição quer culpar o governo por um golpe que, se bem-sucedido, daria espaço a uma ditadura.

Tarefa absurda, essa, difícil de chegar a bom porto. CPI totalmente dispensável, essa, uma vez que o golpe vem sendo investigado à exaustão por todos os órgãos e instâncias aos quais cabe investigá-lo. Os resultados estão à vista de quem não é cego.

Se o governo contar com a maioria dos votos na CPI, com certeza ela se voltará contra parte da oposição que instigou, financiou e apoiou o golpe, e que agora finge ser inocente e tão somente interessada em que tudo seja esclarecido. Bons moços!

Que tal chamar para depor o ex-presidente Bolsonaro e seu filho Carlos? Como não? Bolsonaro foi quem mais tentou desacreditar o processo eleitoral. Fê-lo mesmo depois de o Congresso ter rejeitado a proposta de restabelecer o voto impresso.

Carlos comandou o Gabinete do Ódio de dentro do Palácio do Planalto, disseminando notícias falsas em benefício do pai. É a voz do dono e, às vezes, o dono da voz. Não é de graça que pai e filho respondem ao inquérito sobre atos hostis à democracia.

 

O general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da presidência, seria um prato cheio de histórias a ser convocado pela CPI. Haveria muito o que lhe perguntar. Assim como ao ex-comandante do Exército, o general Júlio César Arruda.

E Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, preso há quase 100 dias? Mandou mapear as áreas onde Lula fora mais votado no primeiro turno da eleição. No dia do segundo, a Polícia Rodoviária Federal bloqueou a chegada às urnas de eleitores de Lula.

Na casa de Torres, a Polícia Federal apreendeu uma minuta do golpe. Ele disse que a recebeu de sua secretária; a secretária negou. Deprimido, 12 quilos mais magro, ele entregou à polícia a senha do celular que diz ter perdido em viagem aos Estados Unidos.

O canário começou a cantar. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, negou o pedido da defesa de Torres para libertá-lo. Se ele de fato está disposto a colaborar com a Justiça, a CPI vai querer ouvi-lo, e, por meio dela, o país. Torres sabe muito ou quase tudo.

Bolsonaro passou quatro anos atravessando a rua para pisar numa casca de banana. Ou se preferirem: com boa mira, passou quatro anos atirando no próprio pé. Fez escola. Bravo! Natural que seus seguidores fiéis e sem imaginação façam a mesma coisa.

Ricardo Noblat é Jornalista

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