Opinião

Quem engoliu Lula para livrar-se de Bolsonaro terá que engolir Janja

O país do futuro comporta-se como o país do atraso

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Lula é culpado por ter sido condenado e preso pelo ex-juiz Sérgio Moro. É culpado por ter sido solto, uma vez que o Supremo Tribunal Federal considerou irregular sua condenação pela justiça do Paraná, e parcial o comportamento de Moro.

Lula é culpado por ter se lançado candidato a presidente pela sexta vez e polarizado a eleição com Bolsonaro, impedindo o surgimento de um nome da chamada terceira via com chances de derrotar os dois. Naturalmente, é o principal culpado por ter sido eleito.

Em breve, será culpado por ter casado com uma mulher que pretende ser uma primeira-dama atuante. Se depender de Janja, ela somará seus conhecimentos ao de Lula na tarefa de ajudá-lo a governar. Se outras pessoas podem fazer isso, por que ela não?

O mundo desabou na cabeça de Marisa Letícia, então mulher de Lula, quando em 2003 ela plantou flores vermelhas em forma de estrela em um canto dos jardins do Palácio da Alvorada. Vermelho é a cor do PT, e a estrela sua marca. Era um absurdo, martelou-se.

O que logo não se dirá de Janja… O que já não começa a ser dito. O que não se disse de Eleanor Roosevelt, mulher do presidente Franklin Delano Roosevelt, que governou os Estados Unidos de 1933 até sua morte em 1945? Eleanor, ainda por cima, era lésbica.

Ela foi a primeira-dama mais influente da história dos Estados Unidos. Apoiou a política do “New Deal” criada por seu marido e tornou-se grande defensora dos direitos humanos. Empenhou-se por melhores condições de trabalho para as mulheres.

Após a morte do marido, foi embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas, e ali presidiu a comissão que elaborou e aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O presidente Truman batizou-a de “Prima-dama do Mundo”.

O lugar da mulher é onde ela queira estar e possa estar. Que seja julgada pelo que fez de bom ou de ruim, ou deixou de fazer, mas não por ser mulher, muito menos por ter sido uma ativista política. O novo século precisa chegar com urgência ao Brasil.

Refiro-me ao século passado, onde questões como essa foram pacificadas. No país do futuro, é vergonhoso que a histeria de militantes sublevados porque seu candidato perdeu a eleição ainda encontre amparo nas Forças Armadas e em parte do empresariado.

Ricardo Noblat é jornalista

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