Opinião

O que é bom para Elon Musk e Bolsonaro pode não ser para o Brasil

É o Twitter, idiota!

Reprodução/Redes sociais

Que momento patético! Bolsonaro, que gosta de passear, não de pegar no pesado, desperdiçou mais um dia de trabalho e foi até Elon Musk no interior de São Paulo para pagar de tiete. Musk não tinha tempo para ir a Brasília encontrá-lo, nem tinha vindo até aqui para reunir-se com ele. Então, o presidente do Brasil foi a Musk, e presenteou-o com uma Medalha de Honra.

A medalha nada tem a ver com “os relevantes serviços” prestados por Musk ao país uma vez que ele ainda não prestou nenhum. Musk veio ao Brasil atrás de negócios, e para falar somente por 30 minutos diante de 100 pessoas, entre elas banqueiros, empresários e servidores do governo convidados por Fábio Faria, ministro das Comunicações, e promotor do evento.

Só na véspera, à noite, os convidados souberam que Bolsonaro apareceria por lá. Muitos cogitaram ir embora, sentindo-se enganados, vítimas de uma pegadinha. Não queriam bancar os figurantes de mais um ato político a favor de Bolsonaro. Naturalmente, faltou-lhes coragem para tal. Dias Toffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal, foi visto com ar de contrariado.

Bolsonaro pagou de tiete, mas comemorou a oportunidade de colher imagens a serem usadas em sua campanha. Não dizem que ele é um presidente internacionalmente isolado? Pois ei-lo ao lado do homem mais rico do mundo, que fabrica carros elétricos, manda foguetes ao espaço, é investigado por assédio sexual, e que poderá ajudá-lo na hora do acerto de contas com a História.

Esquisitos, porém seguros são os caminhos do dinheiro quando se quer transferi-lo de um país para outro em vésperas de eleições. Nos tempos do cheque ao portador, era mais fácil, e mesmo depois quando em fundo falso de caixotes de bebida traficou-se maços de notas de 100 dólares. Mas Bolsonaro não precisa do dinheiro de Musk; dele, caso Musk compre o Twitter, precisa de agrado.

A Justiça brasileira começa a jogar pesado contra o discurso do ódio e a disseminação de notícias falsas. O Telegram parece ter-se acertado com ela, e o Facebook também. No Twitter, Bolsonaro e seus filhos enfrentam dificuldades. O apóstolo da liberdade de expressão, como os bolsonaristas chamam Musk, não poderia dar um jeito nisso? Quanto cobraria? Ou o que desejaria em troca?

Uma fatia da internet 5G? No problem. Monitorar com seus satélites a Amazônia para que o governo pague pelas informações que ele colecione? No problem. Dispor da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão? Bolsonaro ofereceu-a a Musk. Haverá novas conversas entre os técnicos das duas partes. Afinal, o que for bom para Musk poderá ser para Bolsonaro.

A frase original é outra. “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, disse Juracy Magalhães, nosso embaixador em Washington nos primeiros anos da ditadura militar de 64. No caso de Musk e de Bolsonaro, aplica-se melhor a frase célebre do astronauta Jack Swigert da Apollo 13 em viagem à Lua em 1970:

“Houston, we have a problem”.

O problema que temos é que Musk não necessariamente encarna os interesses dos Estados Unidos, muito menos Bolsonaro os do Brasil. Bolsonaro é um presidente de saída do cargo.

Ricardo José Delgado Noblat é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, Noblat foi editor-chefe do Correio Braziliense e da sucursal do Jornal do Brasil em Brasília. Atualmente, Noblat mantém um blog, o Blog do Noblat, no jornal Metrópoles.

 

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