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O Brasil que passa fome: “Fraqueza por falta de comida a gente tem sempre”

Rejane de Souza Rodrigues, de 50 anos, é outro rosto nessa dura estatística

Rejane de Souza Rodrigues, de 50 anos, é outro rosto nas estatísticas. Ela mora há cerca de 9 anos na invasão do Parque Santa Rita, na periferia de Goiânia. Mãe de 12 filhos, trabalhava com reciclagem antes da pandemia, mas, com o avanço da Covid-19, por recomendação médica, parou de sair à procura dos materiais que vendia, pois sofre com a hipertensão e o colesterol alto.

A sobrevivência, há mais de um ano, vem dos bicos feitos pelos filhos. No momento, porém, ninguém da casa está trabalhando, e alimentação vem exclusivamente de doações.

A chefe da família numerosa mora em um lote com três barracos de tábua – o de dona Rejane, com oito pessoas, e os de outros dois filhos, que já são casados, também já têm filhos e as esposas estão grávidas – e apenas um banheiro. Ao todo, são 18 pessoas em situação de penúria.

Além de comida, falta água. Segundo dona Rejane, em vários momentos, o jeito é esperar a fome passar e acalmar. “É doído demais da conta, os meninos dão birra no chão, pedem coisas, eu fico ‘desimpaciente’, mas eu não tenho de onde tirar, tem é que esperar acalmar. Antes da pandemia, a gente tinha como sair e se virar, pegar o carrinho, procurar um reciclado, mas agora ficou tudo mais difícil. Lá em casa, graças a Deus, ninguém pegou Covid, mas fraqueza por falta de comida a gente tem sempre”, diz.

Com lágrimas nos olhos, a matriarca relata que a comida já faltou algumas vezes no prato, e que, em determinado momento, passou três dias sem ter alimentos, mas foi socorrida por dona Marilda, a líder comunitária da região.

“Todo dia a gente come o almoço na dona Marilda, mas na janta tem que dar um jeito né? Aí faz um arroz, põe um feijão no fogo. Quando ela ganha uma verdura, ela divide com ‘nóis’. De manhã, é só o café. Quando a dona Marilda tem pão, ela dá pra gente, e aí temos a refeição da manhã, mas às vezes não tem nem o café. Carne mesmo é só quando a dona Marilda tem. Ela dá cesta, mas lá em casa, que tem muita gente, a cesta dura só uma semana.”

No dia da visita do Metrópoles ao Parque Santa Rita, dona Marilda vivia o luto da perda do irmão no dia anterior e, por isso, não fez o seu tradicional almoço diário, que alimenta cerca de 160 famílias da região.

A mulher, de 64 anos, acorda às 4h para fazer o almoço. A refeição é a única garantia do dia para várias famílias que vivem no local. A comida é feita de segunda a sexta-feira. De acordo com ela, o trabalho realizado é de “assistência social sem diploma”.

Merópoles/ Reportagem espacial. Segunda parte

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