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3ª via tem sete motivos para mirar Lula e tomar lugar de Bolsonaro

Crescimento de Ciro, fusão DEM-PSL e prévias tucanas impõem a ideia de que a 3ª via existe, apesar da torcida dos 65% que se dividem entre Lula e Bolsonaro


Até por que é maioria do eleitorado hoje, os torcedores de Lula (cerca de 45%) e Bolsonaro (cerca de 20%) dominam o discurso de que a polarização entre os dois é inexorável e que a terceira via não passa de sonho de uma noite de primavera.

Nessa conta, pouco importa  a contradição de dar como certo  algo que vai mudar muito até o prazo de filiação partidária em abril e o início da campanha, em julho, no mínimo. Para quem está por cima ou por baixo.

Ou que já venha mudando. A última semana foi pródiga em avanços para os três candidatos mais propensos a desmentir a futurologia e furar o bloqueio: Ciro Gomes pelo PDT, Henrique Mandetta pelo DEM e João Doria ou Eduardo Leite pelo PSDB.

A posição um tanto quanto consolidada na terceira posição das últimas pesquisas  descolaram Ciro Gomes do bloco minoritário de intenções de voto  abaixo de 5%, no noticiário em que a torcida Bolsonaro/Lula chama pejorativamente de terceira via.

A briga dentro das  prévias do PSDB  forçaram o destaque sobre as pessoas e as viabilidades eleitorais de João Doria ou do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

E a  fusão do DEM com o PSL  ensejou o surgimento de um poderoso grupo de centro direita conservador que pode cacifar a candidatura ainda incipiente de Luiz Henrique Mandetta.

Junta a poderosa base partidária de um partido tradicional que está na estrada há uns 40 anos com o balaio de votos e dinheiro do maior beneficiário do fundo eleitoral, detentor da maior bancada da Câmara dos Deputados.

Juntos, trabalham para fazer cerca de 80 deputados e atrair estrelas esmaecidas ou fritadas por seus partidos, como Romeu Zema em relação ao depauperado Novo ou Geraldo Alckmin, ao ingrato PSDB.

Se não levar os dois, arrasta de qualquer forma muita gente do Centrão, por afinidade e expectativa de poder. É uma das articulações mais inteligentes à direita, para arrastar os órfãos do vácuo da indefinição de Bolsonaro por um partido.

Tanto que mobilizou outra força importante da terceira via, o PSD de Gilberto Kassab, a correr atrás de nomes que possam escorrer pelos seus dedos, como o próprio Alckmin e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, quadro do DEM que concorreria com Mandetta pela vaga de candidato a presidente.

Tão certo que a terceira via cresce e aparece, é que evoluem na mesma proporção as especulações sobre suas estratégias, diante do cenário pretensamente congelado de Bolsonaro versus Lula, contaminadas, como não poderia deixar de ser, pela torcida de cada lado.

Previsivelmente, os quatro (menos um pouco Mandetta e Leite) optam por  bater preferencialmente em Lula . Pode parecer contraditório, na medida em que deveriam aleijar Bolsonaro se pretendem seu lugar no espectro da centro direita. Mas que faz todo sentido por sete motivos básicos:

1- Bolsonaro já é quase cachorro morto, a que todo mundo chuta ou nem é preciso chutar mais. 

2- Os três têm que se cacifar para atender o principal desejo desse espectro, relacionado em grande parte em descobrir um outro Bolsonaro sadio que possa abater o lulismo.

3- É muito mais difícil derrubar o candidato Lula que o candidato Bolsonaro do ponto de vista de hoje, ainda que seja mais complicado enfrentar Lula na eleição real.

4- O terço do eleitorado disponível, excetuando-se as intenções nos dois, em torno de 65%, está mais à cata de um substituto para o presidente do que para seu adversário na polarização estabelecida.

5- É bem factível que esse terço tenha mais afinidade com a centro direita. É engordado pelos descontentes com Bolsonaro e a ideia de que Lula já bateu no teto, em torno dos 45%, que já estão na conta.

6- Somados aos 20% de Bolsonaro, esses 33% dariam à terceira via um alto poder de enfrentamento a Lula. Qualquer que seja um dos quatro candidatos.

7- Mesmo que parte desses 53% trafegue para a esquerda ou os olhos azuis de Lula, é igualmente certo que muitos saiam de seu coração quando forem lembrados de seu passado.

A matemática não considera que  Bolsonaro pode não estar tão morto  e nem Lula tão vivo. 

Ainda não houve candidato à reeleição, com máquina na mão, que não chegasse com bom cacife à eleição. Nem adversário que navegue em paz numa campanha com tantas explicações a dar, como Lula.

É quase impossível supor que tantas correntes de centro direita e sobretudo dissidências de esquerda sejam capazes de sair pedindo voto para o primeiro. E que os descontentes vão descarregar votos no segundo com tanta oferta de bons candidatos no mercado.

A terceira via. Que opera com articulações, dados reais e expectativas factíveis para provar, contra toda a torcida, que existe.

Buser escancara excesso de Estado

É altamente elogiável que Romeu Zema tenha vetado as pretensões dos deputados estaduais de dificultar a vida do Buser, o ônibus que funciona como Uber, mais no interesse do cidadão do que do monopólio do transporte intermunicipal.

É uma mudança de paradigma impensável no país em que as câmaras municipais, assembleias legislativas e até a Câmara dos deputados votaram a seu tempo, felizmente em vão, para dificultar a vida do Uber em benefício do monopólio dos táxis. 

Pelo cacoete antigo de nossos dirigentes de preservar os negócios dos empresários acantonados no poder público, em sacrifício da população. Com todos os efeitos colaterais do excesso de estado: licitações dirigidas, alguma corrupção, serviços ruins e resistência à modernidade.

Estão certos os proprietários sacrificados por cumprir regras de horários e abrangência geográfica para dar conta dos serviços que o Estado o obriga e não interessa ao modo Buser de ser. 

Mas também que não podem se esconder atrás dos deputados para obstruir o avanço inexorável da modernidade e muito menos conspirar contra o que a maioria quer.

Se o Buser é um bom negócio, nada os impede de ir para ele e largar o osso do  Estado. Terão certamente mais condições do que os novatos de competir e se dar bem no mercado que já conhecem.

Se o Estado quer garantir certas linhas dos rincões onde o Buser não vai, que as subsidie. Pode se surpreender que não seja necessário.  Nem os empresários querem o mico e nem essas pequenas localidades devem fazer conta de um serviço que sempre foi raro e ruim. Outras alternativas do mercado surgirão.

É surpreendente que Zema tenha encarado o poder dessa minoria encastelada nas engrenagens do Estado, tão forte quanto necessária foi a seu tempo. 

E muito paradoxal, por mais razões que tenham, que os ilustres representantes do povo atendam prioritariamente a ela em detrimento da maioria que vota e não aprova seus serviços.

Ramiro Batista

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